Inicio esse blog com a seguinte reflexão:
''Chuva.
Nada mais ancestral. Muita água, pouca água, não importa: choverá. Em vários
períodos do ano, mais forte, mais fraco: choverá. Em São Paulo, Minas, Rio, Florianópolis.
E também na Alemanha, Nova Zelândia, no Peru. Choveu nos anos 40, chove em
2011, choverá em 2068. Passado, presente e futuro sob uma única nuvem. Só que o
país do futuro não pensa no futuro. Somos totalmente refratários à prevenção.
Tudo
o que nos acontece de ruim provoca uma chiadeira, vira encândalo nacional – mas
depois. Ficamos estarrecidos, mas depois. O antes é um período de tempo que não
existe. Investir dinheiro para evitar o que ainda não aconteceu nos soa como
panaquice. Se está tudo bem até às 14h30 dessa quarta-feira, porque acreditar que
as 14h31 tudo pode mudar? E então não se investe em hospitais até que alguém
morra no corredor, não se policia uma rua até que duas adolescentes sejam
estupradas, não se contrata salva-vidas até que meia dúzia morra afogada. Somos
os reis em tapar burracos, os bambambans em varrer pra debaixo do tapete, os
retardatários de todas as corridas rumo ao desenvolvimento. Não prevemos nada.
Adoramos os astrólogos, mas odiamos pesquisa. Consideramos estupidez gastar
dinheiro contra tragédias que ainda estão em perspectiva. Só o erro consolidado
retém nossa atenção.
A
gente se entope de açúcar, não usa fio dental e depois vai tratar a cárie, se
sentindo privilegiado por poder pagar um dentista. A gente aplaude a arrogância
dos filhos e depois vai pagar a fiança na delegacia. A gente fuma três massos
de cigarro por dia e depois processa a indústria tabagista. A gente corre na
estrada a 140km/h, ultrapassa em faixa contínua e depois suborna o guarda, na
melhor das hipóteses. Ou então morre, ou mata – na pior delas.
A
gente vota em corrupto, depois desdenha da política em mesa de bar. A gente
joga lixo no meio fio, depois se surpreende em ter a rua alagada. A gente se
expõe em todas as redes sociais, depois esbraveja contra os que invadiram nossa
privacidade.
Precisamos
de transporte público de qualidade, mas só depois de sediar a copa do mundo. A
sociedade reclama por profissionais mais gabaritados, mas ninguém investe em
professores e em universidades. E os donos de estabelecimentos comerciais, só
irão se dar conta de que estão perdendo dinheiro quando descobrirem os pangarés
que contrataram para atender os seus clientes. Treinamento, nem pensar. Se
precisar mesmo, depois.
Precisamos
mesmo. De tudo. Só que antes.''
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